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Lazer perde espaço para insegurança no Parque Itaimbé

Camila Gonçalves

Foto: Charles Guerra (Diário)
Vizinhos relatam perturbação por guardadores que ficam no local

Considerado um dos cartões-postais de Santa Maria, o Parque Itaimbé, assim como outras áreas de preservação natural de cidades de médio porte, é um verdadeiro desafio para as gestões públicas. A faixa arborizada que corta a área central de Santa Maria é um dos poucos locais, em endereço centralizado, onde os santa-marienses podem se refugiar da movimentação da cidade e aproveitar momentos de lazer. Mas os desafios são muitos: eles vão desde a conservação da estrutura até a proteção de quem frequenta o local ou mora no entorno.

Nos últimos anos, ocorrências graves como tiroteio, estupro e dezenas de registros de roubos têm como pano de fundo o mesmo endereço. As reclamações em relação ao Parque Itaimbé, agora, dão conta da insegurança nos espaços que poderiam ser utilizados para lazer, cultura e prática de esportes. Quem usa as quadras ou pistas de caminhada do parque não costuma levar objetos pessoais. Aqueles que não têm escolha e precisam passar pelo parque dobram a atenção e evitam os pontos onde a iluminação é precária.

- Eu treino na academia aqui na frente (do parque) e preciso atravessar, à noite, para ir para casa. Dá medo, mas me cuido bastante _ conta uma moradora da região, que preferiu não divulgar o seu nome.

O bancário aposentado João Magno, 63 anos, que mora nas proximidades, relata que, no acesso pela Rua Venâncio Aires, o parque é escuro. Ele caminhava com o cachorro durante a tarde, mas diz que evita ir até lá depois que o sol se põe. Os dois filhos dele já foram assaltados na Rua Tiradentes, um dos acessos ao Itaimbé. Ambos tiveram os celulares roubados.

- Acho que, se iluminassem mais à noite, seria tranquilo. Nas quadras, é mais seguro, mas não venho com o celular ou carteira nem de dia _ diz Magno.

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Outra situação que vem preocupando os moradores daquela região é a presença de um grupo de homens que estariam intimidando quem passa pelo parque. Eles ficam "acampados" nas imediações da Avenida Itaimbé com a Rua Pinheiro Machado, onde pedem dinheiro a motoristas sob alegação de cuidar dos veículos que ficam estacionados naquela área.

Moradores contam que já presenciaram a depredação do parque pelo mesmo grupo e até mesmo cenas de sexo em plena luz do dia - um morador das proximidades chegou a gravar as cenas de sexo praticadas pelo grupo e enviou o vídeo ao Diário. A reportagem do Diário esteve no local e tentou falar com os integrantes desse grupo, mas eles foram hostis e gritaram, de longe, "sem foto", numa referência à equipe de reportagem.

OCUPAÇÃO POR GUARDADORES VEM GERANDO CONSTRANGIMENTO
O grupo identificado por moradores é conhecido dos órgãos de segurança pública de Santa Maria. Um deles tem registro de ocorrências por pichar o viaduto da rua Pinheiro Machado, em fevereiro. Eles também foram apontados por testemunhas como os autores de um pequeno incêndio, na última quinta-feira, dia 8 de março, no mesmo viaduto. Conforme o registro pelo Corpo de Bombeiros, o fogo foi ateado em um monte de lixo. A equipe se deslocou para o local às 20h50 para apagar o fogo e demorou cerca de um hora para solucionar o problema. Na semana passada, a Guarda Municipal apreendeu entorpecentes com os guardadores. Há registros de ocorrências da pichação e da apreensão de drogas, mas nos dois casos os suspeitos foram liberados.

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Longe dos olhos da polícia, os homens acabam retornando ao ponto onde atuam e constrangendo os vizinhos. De acordo com o leitor que gravou as imagens de sexo no parque, a neta dele estava na sacada do apartamento dele, com vista para o verde, quando viu o episódio.

- Ela me perguntou o que era aquilo. Imediatamente tirei ela da sacada. Eles estavam em um colchão. Agora acho que alguém da prefeitura foi ali e tirou o colchão, mas eles levam cartões. Bebem das 6h da manhã até o final da tarde. Eles deixam cartões embaixo da ponte e depois vão para lá deitar. Durante o dia, eles abordam os moradores, pedem dinheiro e, se alguém falar algo para eles, é uma gritaria danada.

O morador relata que, para fazer comida, eles arrancam grades de bueiros e queimam troncos de árvores. Ele acredita que esse seja o motivo do último incêndio ocorrido no parque.

Outro vizinho, que também preferiu não se identificar, conta que o grupo mexe com mulheres, casais e até mesmo pessoas que levam os animais para passear.

- Eles tomaram conta de um território que vai da ponte da Pinheiro Machado até os prédios da base aérea, perto da avenida Nossa Senhora das Dores. Por mais que façam a limpeza do parque, no dia seguinte eles trazem papelões para dormir ali e fazem o "Big Brother" deles ao vivo. Se fossem sem tetos não fariam isso. Inclusive, estes dias, foi assaltado o prédio do Sindicado Rural, não duvido que eles não fiquem por ali informando a rotina desses estabelecimentos.

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SEM REFORMA, BOMBRIL TEM SINAIS DE OCUPAÇÃO
No meio do parque, o Centro de Atividades Múltiplas Garibaldi Poggetti, chamado de Bombril por ter "mil e uma utilidades", chama a atenção. 

Ironicamente, o espaço não cumpre as funções a que se prestava há cerca de 10 anos. Sem condições de sediar atividades culturais, shows e apresentações artísticas, o local foi arrombado e parece servir de abrigo para moradores de rua. Por uma janela aberta, é possível ver que os sinais são muitos: colchões, utensílios de cozinha e alimentos indicam que houve presença humana por ali. A Secretaria de Desenvolvimento Social alega que não tem conhecimento de pessoas que estejam morando no local, mas acredita que alguém possa se abrigar, eventualmente, no prédio.

O espaço aguarda reforma há anos, atravessa gestões e gera um ciclo sem fim de licitações sem entrega da obra. A construtora Reinstein, de Lavras do Sul, ganhou a mais recente licitação, em 2013. Assinou a ordem de serviço em maio de 2014 com prazo de entrega em novembro. Depois de impasses com prazos de entrega e aditivos, a Reinstein retomou a obra em 2015, mas abandonou logo depois. O material comprado para a reforma foi saqueado.

De acordo com a prefeitura, um novo projeto já foi encaminhado à Caixa Econômica Federal (CEF) a fim de retomar a reforma. Todas as adequações solicitadas pela Caixa foram atendidas pela Secretaria de Estruturação e Regulação Urbana. A prefeitura espera o retorno do banco para posterior encaminhamento ao setor de licitações da prefeitura e abertura de novo processo.

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MILITAR DA RESERVA ACOLHE DESABRIGADOS NO PARQUE
A prova de que os viadutos que ligam o Itaimbé servem de "abrigo" para os sem-teto é a coleção de histórias guardadas na memória de João Soleny Pacheco, 73 anos. O diretor de patrimônio da Coordenadoria Regional do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), que também é militar da reserva, empresta a estrutura da coordenadoria, que fica em uma das extremidades do parque, para moradores de rua tomarem banho ou fazerem refeições.  

Pacheco reabastece os andarilhos com água gelada nos dias quentes e até faz almoço, às vezes. Um dos principais responsáveis por manter a segurança do prédio, há mais de 20 anos, ele diz que procura ajudar os desabrigados que vagueiam pelo parque.

- Quando vejo que não são marginais, deixo entrar, tomar banho. Uma vez, esteve aqui, um rapaz novo, que fazia faculdade e ficou desempregado. Me deu pena, vi que era uma pessoa decente - relata Pacheco.

No dia em que a reportagem do Diário esteve no local, ele entregava uma garrafa de três litros de água a Rodrigo dos Santos Lima, 30 anos. Depois de ter sido despedido de uma fábrica onde trabalhava em Santa Catarina, Rodrigo veio se abrigar sob um dos viadutos do parque. Minutos depois de pegar a garrafa d'água, Lima voltou ao local onde acumulava seus pertences, alegando que, se demorasse, ficava sem nada.

Depois de ter a sede arrombada duas vezes, a direção do MTG teve de tomar medidas criativas, conta Pacheco:

- Coloquei uma policial morando aqui.

O militar da reserva diz que já soube de vários casos de roubo no parque. Mesmo com licença para porte de arma, ele diz que se sente amedrontado.

- Estes dias uma senhora sofreu uma tentativa de roubo. Ela não queria largar a bolsa e ele (o ladrão) arrastou ela pela rua.

O próprio Pacheco já foi vítima de um ataque. Ele conta que estava chegando na sede e que, ao abrir o portão, um homem que havia entrado tentou agredi-lo:

- Puxei a arma, dei um tiro para o alto, e ele fugiu. A pessoa com sede e com fome é capaz de tudo. Quando a gente presencia algo, chama a Brigada Militar para reprimir, mas, à noite, nem venho aqui. Tenho medo mesmo.

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ILUMINAÇÃO PRECÁRIA

Na última segunda-feira, a reportagem do Diário andou pelo parque de uma ponta a outra. E pôde constatar que a iluminação no local se restringe à luz dos postes das ruas e de locais pontuais. Há um poste com luz na área onde foi instalada uma pracinha de brinquedos e postes nas quadras esportivas. Um dos pontos mais críticos fica embaixo do viaduto João Agostini, na Rua Pinheiro Machado.  

Segundo a prefeitura, da Rua Venâncio Aires até a Silva Jardim, foram furtados cabos, central de distribuição e chaves compactadoras de energia. De acordo com a assessoria de comunicação da prefeitura, há um projeto de revitalização no entorno do Bombril que prevê o reforço da iluminação pública. O valor do investimento é de R$ 245,8 mil, e o recurso está garantido por meio de emenda do senador Paulo Paim (PT).

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O QUE DIZEM OS ÓRGÃOS DE SEGURANÇA

  • Guarda Municipal

Segundo a Guarda Municipal, que mantém a sua central de videomonitoramento no Parque Itaimbé, em um quiosque entre a Rua Pinheiro Machado e a Avenida Dores, não há condições de designar guardas fixos para pontos da cidade. A Guarda faz rondas diárias, com motos e viaturas, e o Parque Itaimbé está no itinerário fixo dos agentes.

Quanto aos guardadores de carro que ficam no parque, o superintendente da Guarda Municipal, Sandro Nunes, relata que o órgão já recebeu uma série de queixas de moradores por perturbação e que vai procurar fazer ações de abordagem e identificação diária no parque. Segundo Nunes, três deles já foram autuados por assalto. Os demais têm ficha criminal ativa por outros delitos.

- Dados da Brigada Militar dão conta da redução de índices criminais no parque, mas temos essa situação pontual (da perturbação por guardadores) que estamos trabalhando para solucionar - diz Nunes.

  • Brigada Militar 

De acordo com o comandante do 1º Regimento de Polícia Montada (1º RPMon) da Brigada Militar, tenente-coronel Erivelto Hernandes Rodrigues, entre o 2º semestre de 2016 e o início de 2017, o parque registrava elevados índices de pequenos furtos a pedestre e consumo de drogas. Porém, segundo o comandante, essa realidade vem mudando.

- Adotamos uma estratégia de policiamento com ações pontuais com patrulhamento da polícia montada e com motocicletas. Com isso, esses números foram baixados a índices insignificantes. É claro que ainda damos atenção especial ao local, mas a ação que vem sendo relatada pelos moradores tem que ser resolvida pela assistência social - afirma Hernandes, informando que não há como manter policiamento fixo no Parque Itaimbé.


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